O dólar americano acumula sua quarta sessão de queda, caminhando para registrar a pior semana desde julho. O mercado, curiosamente, demonstra um raro senso de alívio, já que tudo indica que o Federal Reserve decidiu fazer uma pausa. O Bloomberg Dollar Spot Index recuou 0,5%, enquanto o rendimento dos Treasuries de dois anos atingiu o menor nível em seis semanas.

Os investidores agora parecem convencidos de que uma sequência de cortes de juros está próxima. Na última quarta-feira, o mercado precificava 46 pontos-base de redução até o fim do ano; poucos dias depois, essa projeção subiu para 53 pontos-base. O diretor do Fed, Christopher Waller, afirmou recentemente que o banco central poderia cortar os juros em etapas de 25 pontos-base para sustentar um mercado de trabalho que mostra sinais de enfraquecimento. Seu colega Stephen Miran, no entanto, adota um tom mais cauteloso, afirmando que ainda não é o momento para um afrouxamento monetário mais agressivo.

Mesmo com a paralisação do governo e a consequente ausência de dados econômicos importantes, o mercado está longe de parecer desorientado. Pelo contrário: o sentimento em relação ao dólar se tornou claramente pessimista. Economistas do Morgan Stanley, liderados por Michael Gapen, observam que a falta de indicadores “não está impedindo o Fed de caminhar em direção a uma política mais branda” e projetam um novo corte já na reunião de outubro.

Enquanto isso, os bancos regionais dos EUA voltam a preocupar os investidores. Suas ações seguem em queda, minando a confiança no setor de crédito. A melhora no clima político no Japão e na França também contribui para a fraqueza do dólar, reduzindo a demanda global por ativos de proteção. Segundo os analistas do ING, Christopher Turner e Francesco Pesole, a moeda americana está sob pressão em múltiplas frentes — desde a reavaliação da postura do Fed e a queda no preço do petróleo, até as frágeis esperanças de paz na Ucrânia e o conflito prolongado entre Washington e Pequim.

Por ora, um sentimento de resignação domina o mercado: todos reconhecem que o dólar está perdendo força, mas ninguém arrisca prever onde estará o verdadeiro ponto de inflexão.